IA identifica anormalidades cerebrais invisíveis em pessoas com epilepsia


CEPID BRAINN - Blog - Pesquisa MELD Graph Epilepsia na JAMA Neurology
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Grupo internacional – com a participação do BRAINN – desenvolveu tecnologia de IA que detecta 64% das anormalidades cerebrais relacionadas à epilepsia que os radiologistas humanos não detectam. 

Texto adaptado de divulgação do King´s College London

O MELD Graph é uma ferramenta de IA que pode mudar drasticamente o tratamento de 4 milhões de pessoas em todo o mundo que convivem com a epilepsia, dizem os pesquisadores.

O estudo, publicado no JAMA Neurology por uma equipe do King’s College London e do University College London (UCL), mostra como a ferramenta melhora significativamente a detecção de displasias corticais focais (FCDs, na sigla em inglês), que é uma das principais causas de epilepsia. O trabalho contou com a participação dos pesquisadores Fernando Cendes e Clarissa Yasuda, do CEPID BRAINN.

Os autores do trabalho dizem que a ferramenta acelerará o tempo de diagnóstico, dará aos pacientes o tratamento cirúrgico de que precisam mais rapidamente e reduzirá custos (a economia estimada para o serviço público de saúde do Reino Unido, por exemplo, é de até £55.000 por paciente).

No Reino Unido, 1 em cada 100 pessoas é afetada por epilepsia e convulsões, frequentemente presentes na infância. Uma em cada cinco pessoas com epilepsia tem convulsões causadas por uma anormalidade estrutural (“lesão”) no cérebro. FCDs são uma causa estrutural comum de epilepsia; nestes casos, as convulsões são de difícil controle com medicamentos. A cirurgia para remover a lesão pode ser uma maneira eficaz e segura de interromper as convulsões. No entanto, o desafio é que os FCDs podem ser sutis e difíceis de ver com o olho humano – até metade dessas lesões não são detectadas pelos radiologistas. Atrasos no diagnóstico e na cirurgia significam mais convulsões, mais visitas ao pronto-socorro e mais interrupções na escola, no trabalho e na vida doméstica.

No estudo, os pesquisadores reuniram dados de ressonância magnética de 1185 participantes — incluindo 703 pessoas com FCD e 482 controles — de 23 centros de epilepsia ao redor do mundo no projeto Multicentre Epilepsy Lesion Detection (MELD). Metade do conjunto de dados é de crianças. Eles então treinaram a ferramenta de inteligência artificial (MELD Graph) nas varreduras para detectar essas sutis anormalidades cerebrais que poderiam passar despercebidas.

O autor principal do projeto, Dr. Konrad Wagstyl, do King’s College London, disse:

“Os radiologistas estão atualmente inundados com imagens que precisam revisar. Usar uma ferramenta com tecnologia de IA como o MELD Graph pode apoiá-los em suas decisões, tornando o sistema de saúde mais eficiente, acelerando o tempo de tratamento para os pacientes e aliviando-os de testes e procedimentos desnecessários e caros.”

Como exemplo, o coautor Dr. Luca Palma, do Hospital Infantil Bambino Gesù, Itália, disse: “O MELD Graph identificou uma lesão sutil não detectada por muitos radiologistas em um menino de 12 anos que tinha convulsões diárias e havia tentado nove medicamentos anticonvulsivantes sem nenhuma melhora em sua condição. Esta ferramenta pode identificar pacientes com epilepsia cirurgicamente operável e ajudar no planejamento cirúrgico – reduzindo riscos, economizando dinheiro, melhorando os resultados.”

Embora a ferramenta ainda não esteja clinicamente disponível, a equipe de pesquisa lançou a ferramenta de IA como um software de código aberto. Eles estão realizando workshops para treinar clínicos e pesquisadores em todo o mundo, incluindo o Great Ormond Street Hospital e a Cleveland Clinic, sobre como usá-la.

A primeira autora, Dra. Mathilde Ripart da UCL, afirmou: “Um dos destaques para mim é ouvir médicos de todo o mundo, incluindo o Reino Unido, Chile, Índia e França, que conseguiram usar nossas ferramentas para ajudar seus próprios pacientes.”

A pesquisadora Helen Cross, co-autora do estudo e Presidente da Liga Internacional Contra a Epilepsia, disse: “Conheço muitas crianças que passaram anos tendo convulsões e realizando exames até encontrarmos uma lesão. A comunidade da epilepsia está buscando maneiras de acelerar o diagnóstico e o tratamento. Iniciativas como o MELD têm o potencial de identificar rapidamente anormalidades que podem ser removidas e potencialmente curar a epilepsia.”

A pesquisadora Dra. Sophie Adler da UCL complementou:

“Este tipo de pesquisa só é possível com colaboração internacional. Tivemos o privilégio de trabalhar com 75 pesquisadores e clínicos em direção a este objetivo comum de “nenhuma lesão de epilepsia perdida em todo o mundo”.

 

Para saber mais

  • Ripart M et al., 2025. Detection of epileptogenic focal cortical dysplasia using graph neural networks: a MELD study. JAMA Neurology, Feb 24. doi:10.1001/jamaneurol.2024.5406

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